Necrópole dormiu no ponto. Não conseguiu evitar a urbanização de uma área pública de 10.000 m2 que será vendida para um grande grupo imobiliário no bairro Humaitá. Necrópole reclama, diz ter razão, já que os moradores utilizaram práticas de guerrilha urbana para se apropriarem daquele espaço público: chegaram cedo, agiram no silencio, mobilizaram a comunidade, resistiram às tentativas de coerção e se recusaram a assinar a notificação da Secretaria de Fiscalização Necropolitana. Insurgência que será punida, Necrópole avisa, com a destruição do campo de futebol, da pista de caminhada de 1000 metros, do pomar, do playground e, especialmente, daquele horroroso memorial feito por um pedreiro meia-boca, acompanhado de um servente de igual competência. Necrópole faz melhor. Irá construir uma mureta de concreto armado de 42,56 cm de espessura por 1,63 de altura, revestida de um granito importado e caro chamado travertino navona, resistente às intempéries do tempo, tanto quanto às insurgências comunitárias. Irá grafar, em letras garrafais, a seguinte inscrição: Aqui Jaz a Res publica. Aguardem…