“A administração de Goiânia erra por não parar para se pensar”
Professor da UFG diz que a capital tem problemas relativamente menores a outras
cidades do mesmo porte ou até maiores, mas falta gestão e vontade política
O professor Tadeu Alencar Arrais foge a um certo padrão consagrado na academia. É daqueles que conseguem fazer a ponte entre a teoria e a prática, de forma a participar ativamente da vida da cidade — inclusive no que diz respeito à política local. Nada mal para um geógrafo.
Mesmo assim, seu engajamento não escapa de palavras irônicas de quem se sente criticado. Ao encontrar um vereador em um evento, este chegou a lhe dizer que os professores precisavam “sair dos condomínios e andar pela cidade”. Ele questionou se o político sabia o que era originalmente o terreno ao fundo do salão onde estavam. O vereador não soube responder e teve de ouvir o relato sobre a história do local da boca do professor.
Professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutor pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Tadeu Arrais tem ido além do papel de representante da comunidade científica nos últimos debates polêmicos da Câmara de Goiânia, como foram a questão do IPTU e o projeto de desafetação de áreas públicas.
Neste último, se envolveu com a apropriação de um terreno que a Prefeitura queria vender no Residencial Humaitá, região norte da capital. A área, por coincidência ou não, estava praticamente ao lado de um grande shopping. A comunidade local se juntou a instituições como a própria UFG e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) para revitalizar o local e fazer de lá uma praça, polemizando o debate na Câmara e com a Prefeitura.
Ele faz uma análise bem crítica da atual administração da capital, que considera voltada a atender os interesses do setor imobiliário e a menosprezar um planejamento contínuo. “Um gestor tem de entender a cidade de forma sistêmica e não de maneira pontual”, resume. A entrevista ao Jornal Opção foi também um passeio pela história de Goiânia, “desenvolvida como um patrimônio” desde sua gênese, quando fazendeiros doaram terras para valorizar suas propriedades.