Quando o céu negro anuncia a chuva, o pânico toma conta de duas dezenas de famílias que vivem há décadas às margens do Córrego Capim Puba, no Setor Norte Ferroviário, próximo da Avenida Goiás Norte. Desde 2012, a região tem sido uma das grandes preocupações da Defesa Civil de Goiânia. “A água sobe rápido demais. Em poucos minutos atinge 1,5 metro”, afirma Cidicley Santana, técnico da Defesa Civil. Edificadas na Área de Preservação Permanente (APP) do Capim Puba, as casas da Rua dos Ferroviários até dois anos atrás não tinham chamado a atenção do poder público, mesmo em terreno irregular. Em março de 2012, o rompimento da rede coletora de esgoto que passa na área do Cemitério Jardim das Palmeiras, do outro lado do córrego, provocou deslizamento de terra e danos na adutora de água potável e na rede de água pluvial. Houve uma grande inundação das residências que margeiam o curso d’água, a primeira de muitas.
Na época, de acordo com Cidicley Santana, a Saneamento de Goiás S.A. (Saneago) fez um gabião de forma emergencial para conter o problema, mas ele não foi solucionado. O casal Bento e Luiza Fontes, de 70 e de 65 anos, que vive na casa de número 325 há quase 40 anos, sabe bem disso. “Escureceu, a gente coloca tudo em cima”, conta ela. O quintal cheio de árvores frutíferas está cheio de lama, revelando como têm sido os dias de chuva forte. Perto dali, o vigilante aposentado Paulo Roberto Marques, de 57, já perdeu a conta dos móveis que perdeu.
Deficiente físico, Paulo Marques entrou com um pedido no Ministério Público do Estado de Goi´as para ser transferido do local. “Ninguém aqui tem escritura, apenas o direito de posse”, explica. Diretora de Regularização Fundiária da Secretaria Municipal de Habitação, Rosana Carvalho Ferreira Leite, garante que as famílias que vivem às margens do Capim Puba estão na lista prioritária da pasta. “Esperamos que até a primeira quinzena de maio, com a conclusão do Residencial Antônio Carlos Pires, pelo menos 30 famílias sejam transferidas, 15 delas dessa região próxima à Avenida Goiás Norte”.
Titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema), Luziano Carvalho, acompanha a situação da Rua dos Ferroviários desde 2012. “A minha sugestão é a transferência, aquilo lá é área de inundação. Se desapropriar, as famílias vão continuar enfrentando as enchentes. O crime ambiental muitas vezes é menor do que a omissão do poder público”, afirma. Para Cidicley Santana, da Defesa Civil, esta é uma situação que precisa ser solucionada com urgência. “Quando chove é a região de Goiânia que mais nos preocupa”, avisa.
Publicado em O Popular, 13/03/2014