Seu filho está vivo, mas ele é meu – porque Salomão traiu Necrópole
Necrópole, de forma cruel, foi traída. Há que diga que a traição deriva de um pecado original, afinal, Necrópole, por muito tempo, imaginou-se soberana. A soberba, hoje sabemos, não foi boa conselheira. As realizações de nosso Augusto Prefeito, agora aposentado, sucumbem diante da desmedida ganancia. Nosso liberalismo, fincado na doutrina do John Locke, caiu por terra. Os princípios do trabalho e da propriedade foram substituídos, de forma traiçoeira, pelo liberalismo neopentecostal. O glorioso destino descrito em nosso hino será substituído pelo louvor. O paço municipal, lugar reservado para os acordos menos ortodoxos de nossa democracia liberal, será substituído pelo templo de Salomão. Necrópole, cidadãos, esta fracionada, dividida. Nada, absolutamente nada, restará aos homens de boa fé que sustentaram, com suor e lágrimas, a administração de Augusto Prefeito. Nossos poucos interlocutores intuem, inclusive, que nem o PC do B suportará a tensão, muito embora o diretório já tenha providenciado exemplares do velho, do novo e do novíssimo testamento. Necrópole, calada, até ontem, rebela-se. Nossa ética, liberal, é laica. Fomos forjadas assim. Necrópole não reclamará, como fez a prostituta, à justiça de Salamão. Salomão quer o filho para ele e isso, jamais, permitiremos.
Ave Necropole, morituri te salutant.